Siga-nos nas mídias sociais e descubra mais cupons de descontos!

Instituto Camará Calunga

Michelle Lima, do Instituto Camará Calunga, nos conta sobre o enfrentamento de problemas sociais no município de São Vicente e garantias dos Direitos da Criança e do Adolescente

Além dessa atuação política do instituto, e artística com o Coisa de Preta, quais outras atividades mais existem aqui?

Nós temos o grupo percussivo Afro Calunga, que trabalha a percussão, também trabalha com Maracatu, com ritmos africanos, músicas que fazem resgate da cultura afro. Acontece aos finais de semana. Então, aos sábados tem o Coisa de Preta e o grupo percussivo.

Tem o grupo de estudos de crianças e adolescentes. Tem o cineclube, que não é o cinema comercial. A gente pode até ver algum filme comercial, mas o intuito é que a gente veja outros tipos de filmes, outros tipos de comédias, de romances. Que não é esse que está aí na mídia, que eles estão consumindo o tempo todo.

E dentro do nosso cineclube a gente não come pipoca. Depois que termina o filme, a gente tem que conversar. A gente não assiste o filme e vai embora. A gente assiste o filme, conversa e depois a gente come. É uma metodologia: a gente gosta de brincar, estudar e comer. É isso que a gente gosta de fazer!

Então, em todas as atividades, no final ou no início dela, a gente sempre gosta de ter a comida fazendo parte. E com o Cineclube também é assim. Depois que finaliza assistir o filme, a gente faz uma roda de conversa e depois a gente come juntos.

A gente tem as assembleias comunitárias, acontecem na Vila Margarida, no Jockey e na área continental, é uma vez por semana e acontece à noite.

E agora a gente está com projeto de Redes em Foco, que é uma rede de São Vicente. Instituições da sociedade civil, grupos autônomos, escolas que se juntaram para discutir a defasagem escolar e quais são os enfrentamentos. Nesse programa são 9 instituições participantes aqui de São Vicente. Tem grupo estudantil, grupo de crianças, grupo de mulheres, organizadores da sociedade civil e escola que se juntaram para criar um plano de ação para tentar fazer uma provocação na cidade e enfrentar essa desigualdade educacional. A gente se encontra semanalmente – uma quinta de manhã, outra quinta à tarde, para poder conseguir a participação dessas crianças que estão na escola – e discute, conversa, estuda sobre todo esse enredo que vem a culminar nessa não-escolarização. Estas são as atividades que a gente está fazendo agora.

E sobre o Eureca?

O Eureca – Eu Reconheço o Estatuto da Criança e do Adolescente – é um bloco carnavalesco criado em 1992, em São Bernardo do Campo, pelo Coletivo Meninos e Meninas de Rua. É um bloco de Carnaval que discute os Direitos da Criança e do Adolescente. A garantia dos direitos. Já está aqui no Camará há 21 anos, se eu não me engano, promovendo esse bloco. Ele acontece sempre aqui na praia.

Acontece, na verdade, durante o ano em alguns lugares, em São Bernardo, no Sapopemba, já aconteceu em Campinas, e acontece aqui no litoral. E é um processo um de um ano inteiro. Então, não acontece só o desfile. Tem os encontros de formação, que a gente convida as crianças e adolescentes para conversar. O tema do bloco é decidido coletivamente, o samba enredo é construído coletivamente. Todos os cartazes, faixas, alas, alegorias que são confeccionadas para o bloco, é tudo construído coletivamente, junto com as crianças, adolescentes e jovens.

No ano passado, a gente teve, inclusive, a ala dos bebês. Porque a gente estava fazendo um trabalho aqui com as jovens mães e os bebês aqui no Camará, que é um trabalho de 1 ano. Então, a gente falou

Os bebês! Eles são participantes. Integral do Camará, eles pensam, eles falam, eles estão aqui. Então, por que a gente não vai ter uma ala?

A gente resolveu fazer uma ala dos bebês, eram as mães com seus carrinhos de bebês e todo mundo desfilou numa avenida bem grande, foi um trajeto longo. E os bebês não foram no carrinho, a gente tem as fotos, os vídeos, os bebês dançando, pulando e jogando confete. Essa é uma ala que agora é fixa: é a Ala dos Bebês!

Ao passo que você conta da trajetória política, das ações, de muitos trabalhos aqui, são sempre grupos de mulheres, certo? Como que a gente pode pensar em uma participação, ou em atingir, os homens nessa sociedade e fazer com que haja uma integração maior. Não só pelas questões do machismo e da misoginia, mas também por participação e pela responsabilidade mesmo?

Acho que a gente tem que trazer eles para perto. Eu tenho criticado muito alguns posicionamentos e alguns coletivos que, ao invés de agregar, são excludentes. Alguns grupos, mesmo de mulheres, que falam: “Ah! Os homens foram machistas, tem que tirar. Não tem que ter”. Não! A gente tem que trazer para perto para poder estudar junto, falar:

Meu camarada, você está sendo machista! Olha aqui, vamos estudar juntos? Vamos olhar? Você não é assim porque você escolheu ser assim. Você foi educado para ser assim, mas você pode mudar, né? Então vamos sentar, vamos conversar?

Como a gente está educando nossas crianças? Como esses pais estão educando seus filhos? Então, eu acho que a gente tem que estar junto com as pessoas e fazer uma reeducação. Conversar, estudar junto, trazer os homens para perto, porque se a gente afasta, a gente não vai ter mudança nenhuma. A gente só vai ter uma produção de mais homens machistas, então eu acho que gente tem que estar junto, discutindo e fazer com que eles escutem.

Acho que só falar, eu acho que não vai ter mudança nenhuma. Então a gente precisa trazer para junto e falar:

Agora, você vai precisar ouvir um pouquinho. Vai ser difícil, vai ser dolorido, mas foi dolorido a vida inteira para a gente. Doeu a vida inteira para a gente! Então agora vamos conversar, vamos construir outra coisa”.

A gente só constrói coisas se estiver junto, separados, a gente vai construir nada.

E por último, gostaríamos de inaugurar com você uma nova seção das entrevistas do Blog da Loja Axé: você poderia, por favor, deixar indicações e referências que são importantes para você?

Eu tenho algumas referências… A primeira, é minha avó. Minha avó Maria, que é a mãe do meu pai. Ela é parteira. É uma mulher muito guerreira, de conseguir criar 13 filhos e viver um relacionamento em que meu avô, que era militar, a fez ela sofrer muito. E ela conseguiu dar essa educação. Minha base vem daí. Sempre que dá, eu vou para o nordeste, gosto de ouvir as histórias e ver o jeito que as pessoas a tratam. Minha vó fez o parto da maioria das pessoas que moram na cidade. Então, todo mundo gosta muito da minha vó. Se você chegar lá em Aracaju e perguntar onde mora a Maria, todo mundo vai saber explicar.

Outra referência muito grande é meu avô, que é o pai da minha mãe. Eu não o conheci. Ele foi assassinado, na verdade. No ano retrasado, 2019, eu resolvi ir para o nordeste para poder conhecer esse outro lado da família, porque a mãe contava muito. E com a mãe da minha mãe não tenho muito vínculo porque ela é racista. Eu sofri um racismo na casa da minha avó e eu resolvi me afastar da família. Mas, tinha esse outro lado que era do meu avô, que a minha mãe contava pouco. Eu usava muito o sobrenome do meu pai, Correia, e um dia minha mãe falou assim “Mas, você tem que se orgulhar do seu outro sobrenome também, o Lima”. Eu falei “Não, porque a vó é racista”. E ela falou é do meu avô.

Minha mãe contou a história do meu avô. Meu avô foi um militante. Um dos fundadores do PT em Aracaju e que trabalhou junto com um grupo de capoeiristas no fechamento da fábrica de cimento que estava causando câncer na maioria das crianças, adoecendo um monte de crianças. Além disso, tinha um livro escrito pelo meu avô e uma rua cuja placa é o nome dele e eu não sabia disso.

Eu resolvi fazer essa viagem com as minhas filhas. Nós três para eu poder entrar em contato com essa história. Foi lindo de saber do meu avô, que essa minha militância toda talvez venha daí também. Do lado da minha mãe, minhas tias são delegadas, são policiais e elas trabalham com uma outra perspectiva. Com um grupo de mulheres acolhendo mulheres. Não é desse jeito que a gente vê aqui, por exemplo, que eu tinha contato com policiais, com esse sistema, elas fazem um trabalho totalmente diferente lá. Todas as minhas primas são formadas na universidade, são professoras, são pesquisadoras. E isso para mim foi muito bonito de ter visto. O nome dele é José Alves de Lima e o livro dele é “Bairro América”.

Nesse livro tem minha mãe criança. Coisa que eu nunca tinha visto, e quando eu lia, quando abri o livro, vi a foto do meu avô. Eu nunca tinha visto uma foto dele, uma foto dele e uma foto da minha mãe com as minhas 2 tias nesse livro, contando toda a história dele. Ele foi assassinado antes de assumir, ele ganhou a eleição e, por rixa política, foi assassinado. No dia que ele ganhou a eleição, na porta de um bar, meu avô faleceu, foi assim.

Carolina Maria de Jesus eu acho que é uma inspiração. Deveria ser uma inspiração para todas as pessoas. Foi um presente, eu ganhei esse livro. Quando eu comecei a ler, me identifiquei muito com a história. Inclusive, Carolina e eu fazemos aniversário no mesmo dia, 14 de março.

“Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, para mim, todas as histórias que ela narra nesse diário são as histórias da minha infância. Eu cresci com isso, eu cresci vendo isso. Eu fui uma pessoa que peguei papelão, para poder conseguir comprar doce, para conseguir comer uma fruta, a gente ia para feira, então eu cresci fazendo tudo isso. Eu falei: “Caramba! Olha aonde essa mulher chegou. Olha a história dessa mulher! Parece com a minha história também, com  de tantas outras mulheres que estão ao meu redor”.

E o Racionais. Apesar de ter várias críticas sobre as letras das músicas do Mano Brown, de algumas músicas que colocam a mulher como objeto. Mas, essa reconstrução dele a partir da interferência que a Eliane Dias faz com ele, de rever as músicas, agora de montar o álbum Boogie Naipe. Eu sou uma fãzaça. Eu amo as músicas, eu canto todas as músicas, inclusive já coloquei em trabalho de faculdade. Eu acho que é uma aula de história. Você analisar as letras do Racionais é uma aula de história.

Eu acho que para entender essa questão da camaradagem, que é o que a gente tem prezado muito, fortalecido muito. A gente se baseou no livro do George Jean, que é “Camaradas – Companheiro de Luta”, e a gente diz “Todo mundo pode ser um camarada, mas nem todos serão”. Então, a gente faz este convite para todo mundo que queira ser um camarada. Para que se junte, para que vivencie um pouco dessas experiências. E, se fizer sentido, se junte a nós, né? E que a gente tem que estar juntos. A partir do momento que a gente está junto a gente constrói coisas. Se cada um fica no seu grupinho separado, a gente não muda nada.

Quais são os contatos – Instagram, site, e-mail, telefone – do Intituto Camará Calunga?

No site camaracalunga.com tem toda nossa missão, fundação, os projetos, muitas fotos. O Facebook também, Instagram, em tudo está como Camará Calunga. A gente tem o TikTok da instituição, mas não posta muita coisa. No YouTube, tem muito material desde mil novecentos e bolinha… Tem muito material lá, vídeos, muitas fotos.

Então, nas nossas redes sociais as pessoas conseguem saber um pouco mais, inclusive se quiser apoiar de alguma forma, estar junto, participar de uma assembleia, de uma reunião, todas as informações estão lá.

Como são as formas que alguém pode apoiar o Camará Calunga?

Tem uma forma que a gente tem conversado bastante com as pessoas que é a Nota Fiscal Paulista. Todas as pessoas podem ser doadoras. Você entra no sistema da Nota Fiscal Paulista, você se cadastra lá, e você coloca o CNPJ do Instituto Camará Calunga (02.360.754/0001-30) lá e você vira um(a) doador(a) para a instituição.

É um dinheiro que a gente, por exemplo, viaja com as crianças, consegue fazer os projetos, consegue comprar alimentação. Então, a gente faz um convite para todas as pessoas que olharem lá o site e se identificarem com a nossa missão, com o nosso trabalho serem um(a) doador(a) na Nota Fiscal Paulista para a instituição.

A gente, inclusive nosso site, mostra como a pessoa pode ser um(a) doador(a), explicando qual é o passo a passo e se tiver alguma dúvida tem o nosso WhatsApp (+55 13 9 9123 8234) lá também. Chama a gente e pergunta como fazer doação. Tem o número da conta, algumas pessoas fazem doação direta.

Enfim, a gente sempre presta conta desse dinheiro que entra. E se quiser saber de algum coletivo específico, para saber do Coisa de Preta, apoiar esse grupo ou a bateria, a gente está super aberto para conversar, para apresentar o trabalho e ver qual a sua forma de apoiar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Descubra cupons de desconto

Cupons de desconto revelados nas mídias sociais. Fique alerta!

Troca ou devolução

Precisa trocar? É rápido e fácil

Matéria-prima importada

Materiais importados de alta qualidade

Compra 100% Segura

Pix / MasterCard / Visa / Transferência Bancária