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Ambiafro, profissionais de diversas áreas capacitam, desenvolvem e comunicam sobre população negra e meio ambiente. Entrevista com Paula Guimarães, especialista em sustentabilidade.

Muito em voga atualmente, as questões climáticas são tema de discussão no mundo inteiro, não obstante, o racismo é também uma temática urgente. Aliás, estas problemáticas se encontram e impactam a vida de muita gente. É o que explica Paula Guimarães, Diretora de Projetos da Ambiafro, um coletivo formado por pessoas negras, majoritariamente feminino, que leva este debate em forma de informação e capacitação para pessoas e empresas de todo porte.

À primeira vista, percebe-se, até mesmo pelo nome, uma fusão entre “(meio) ambiente” e “afro”, o que nos faz deduzir uma junção entre estes dois conceitos e, por consequência, das duas causas, correto? Como a Ambiafro se define?

A Ambiafro se define como um coletivo de profissionais negras/negros/negres, de diversas áreas do conhecimento, como Direito, Comunicação, Recursos Humanos e Meio Ambiente, de diversos estados do país, bem como do exterior, que juntos visam mostrar de maneira inter e multidisciplinar, acessível e popular o quão plural e presente no nosso cotidiano é temática socioambiental e racial.

A Ambiafro é uma iniciativa que surge da necessidade de colocar em evidência e protagonismo as pessoas negras e tudo aquilo que elas representam e trazem consigo, suas vivências, conhecimentos adquiridos e história. É mostrar para o Brasil e o mundo que sem racializar a abordagem ambiental, não há como termos um desenvolvimento sustentável, fugindo do pensamento trivial que meio ambiente é apenas falar de água e florestas.

Paula Guimarães

Ambiafro é colocar o social como pauta central da sustentabilidade, empreendendo por e para as pessoas, pois nos identificamos como pertencentes ao meio que vivemos.

Quem são as pessoas responsáveis pela Ambiafro e seus respectivos papéis?

A Ambiafro é constituída por número limitado de membros, que são todos voluntários, entendendo-se por tal, “toda pessoa física que auxilia nas atividades da Ambiafro, de forma voluntária e contínua e sem remuneração”.

Atualmente somos 22 voluntários em 8 setores, sendo estes: Jurídico, Comunicação, Projetos, Comercial, Divulgação Científica, Diretoria Executiva, Recursos Humanos e Administrativo Financeiro.

Um coletivo formado por 100% de pessoas negras, sendo 13 homens e 9 mulheres. Na diretoria são 5 mulheres e 2 homens. Além da diversidade regional, onde temos pessoas dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Espirito Santo e também de fora do Brasil, na Alemanha.

Paula Guimarães - Ambiafro
Paula Rodrigues – Ambiafro

Desta forma, quais são as principais áreas de atuação da Ambiafro?

Nossa área de atuação envolve, principalmente: Inserir, capacitar, desenvolver e dar visibilidade para profissionais negros no mercado; Comunicar sobre meio ambiente de forma multidisciplinar, popular e acessível, utilizando principalmente as redes sociais; Aprofundar e democratizar a relação entre a população negra e o meio ambiente.

Vivemos em tempos em que o negacionismo que se espalha por diversas áreas. No Brasil, que tem em seu histórico o “mito da democracia racial”, como a instituição sublinha a importância do recorte racial para debater o clima, que é outro tema também atingido pelo negacionismo?

O clima é um dos principais assuntos pautados pela Ambiafro, na qual damos luz a temática de “Racismo Climático” e “Racismo Ambiental”. Trabalhamos na forma de letramento, levando o conhecimento sobre a temática de forma acessível ao nosso público. Sabemos que os impactos das mudanças climáticas têm cor, gênero e local: são pessoas pretas, na sua maioria mulheres e periféricas que mais sofrem com os efeitos das mudanças climáticas, sendo este o Racismo Climático e com a falta de legislação eficiente para controle dos impactos ambientais causados por grandes empresas e corporações, sendo este o Racismo Ambiental. Por isso, o primeiro passo para a transformação é o conhecimento, o reconhecimento, a apropriação do tema, a discussão. É necessário que essa mulher preta periférica entenda o porquê está sofrendo e nós, como sociedade, temos que dar voz e colocar esse tema em voga. A temática ambiental ainda é muito discutida por pessoas brancas, de classe média alta e em sua maioria homens. Precisamos de representatividade de pessoas não brancas nas bancadas de discussões sobre as questões climáticas, incluindo pessoas negras, indígenas, ribeirinhas, quilombolas e demais comunidades tradicionais.

O que podemos concluir é que, tanto o racismo climático quanto o ambiental configuram a manutenção dos padrões sociais sobrepostos a pessoas em vulnerabilidade social e ambiental que em sua maioria são negras. Refere-se também às variadas formas desiguais pelas quais etnias vulneráveis são expostas a externalidades negativas e a fenômenos ambientais extremamente nocivos, como uma consequência da falta de representatividade em lugares de tomada de decisão.

As degradações do meio ambiente são causadas por indivíduos ou empresas, que não se importam com o custo que gerará para terceiros, direta ou indiretamente, gerando externalidades. Isto pode causar efeitos negativos e positivos, tanto na economia, como no meio ambiente e na sociedade, esses efeitos denominam-se externalidade negativa e externalidade positiva.

Com isso, a Ambiafro chega para levar esse conhecimento a todos os espaços: periferia, empresas, conselhos, congressos, para elaboração de políticas públicas, entre outros.

Tratando-se ainda de negacionismo, mas agora em termos de saúde pública e meio ambiente, a partir da perspectiva de atuação da Ambiafro, como se observa a questão da vacinação contra a COVID-19, no Brasil?

Durante a pandemia, podemos perceber que a primeira luta para a população negra foi o fortalecimento do SUS. A população negra foi a que mais morreu durante a pandemia, e a que menos se vacinou durante a pandemia.

A pandemia da Covid-19 revelou que os grupos populacionais que historicamente foram negligenciados, aqueles com baixa proteção ao emprego e as populações sem acesso adequado a cuidados de saúde acessíveis estão entre os mais atingidos, especialmente ao maior risco de óbito.

Sobre a perspectiva da Ambiafro, percebemos que o acesso desigual à saúde também se reflete na vacinação. Precisamos entender que isso faz parte do racismo estrutural, com a falta de uma ação governamental eficaz para resolver um problema histórico, que afeta diversos setores da sociedade. É necessária uma análise dos dados da pandemia, incluindo vacinação, de uma forma que expressem como as pessoas adoecem, morrem ou se curam, considerando questões como raça, cor, etnia, classe social, gênero e geração no risco de adoecer e morrer por a covid para que o seu gerenciamento seja pleno e adequado.

Diversos estudos apontam que os problemas ambientais, a própria pandemia, e até mesmo racismo na contemporaneidade têm por base o sistema capitalista. Diante desta assertiva, como a Ambiafro se posiciona?

Entendemos que a única forma de mudarmos nosso futuro é repensando nosso modelo de consumo e o nosso sistema atual. Acreditamos que, de forma gradual, as empresas e os governos terão que se adaptar aos novos modelos de negócios, voltados a geração de valor compartilhado, com um olhar mais atento e ativo para as questões ambientais e sociais, e não focados apenas no lucro. Os governos deverão entrar de forma ativa por meio de políticas públicas, para que a população marginalizada seja amparada dos custos causados pelas organizações que danificam e prejudicam o meio ambiente. A partir dessas políticas o racismo ambiental poderá ser combatido paulatinamente em determinadas regiões. Lembrando que esta é uma grande luta que pode levar anos.

Como o aumento de pessoas passando fome no Brasil está relacionado às questões ambientais?

Ao analisarmos no contexto Brasil, temos o agronegócio com a principal forma de promover alimento. O agronegócio hoje impulsiona milhões de reais anualmente e movimentam a economia do país, só que, juntamente com ele, temos impactos ambientais enormes e aumento da desigualdade, além do envolvimento político do setor para atendimento das suas demandas específicas, sem pensar na sociedade como um todo.

O Brasil é um dos países que mais produzem alimento no mundo, e recentemente entramos para o mapa da fome novamente. Isso indica que não administramos bem nossos recursos internos, e que valorizamos muito mais a exportação dos nossos serviços, do que a valorização do produto interno e de ações que reduzam a fome e a desigualdade.

Além disso, colocamos que diversas fontes colocam que a forma de produção de alimento atual não é a mais produtiva, e muito menos a mais sustentável. Pessoas desmaiando em filas do sistema de saúde pública, ossos sendo vendidos para aqueles que não conseguem comprar a tão rara carne, citando centros urbanos; indígenas e povos tradicionais tendo de permanecer resistindo ao massacre imposto no campo e em seus territórios por este tal desenvolvimento que para além da fome deixa rastros de violência e morte. E pouco fala-se da agricultura familiar como sendo a principal produtora daquilo que é consumido internamente.

O que é Justiça Climática?

Os efeitos do clima na sociedade e nossa capacidade de mitigar e nos adaptar a eles são mediadas por fatores sociais, incluindo o gênero e raça. Poluição do ar, aumento do nível do mar, desastres naturais, falta de água potável são algumas das consequências provenientes da mudança climática.

Contudo, existem empresas e governos que tem impactos ambientais muito mais severos e significativos do que outros. Assim, para “equilibrar” a balança, temos o termo de Justiça Climática.

A justiça climática veio para dar um verniz ético nas questões do clima, afinal os prejuízos decorrentes das alterações climáticas são sentidos por quem menos contribui com elas: é preciso equilibrar a balança dos danos climáticos.

Como os debates sobre as mudanças climáticas ampliam os limites da justiça e da moralidade, abrangendo questões como direitos humanos, responsabilidade coletiva, deveres das gerações futuras, deveres potenciais para com animais não humanos, crescimento populacional e raça.

Os desafios coletivos normativos colocados pelas mudanças climáticas e pela população, contra um quadro mais amplo de justiça global. Isso inclui questões como o que a política climática coletiva deve envolver (mitigação, adaptação, compensação), como esses encargos devem ser distribuídos, se a política populacional poderia justificadamente fazer parte disso e com que justificativa responder à não conformidade.

No COP 26, houve uma presença marcante do ativismo negro. Dado o contexto das eleições, a COP 27 foi marcada pela presença do presidente eleito, Lula. Como a Ambiafro avalia o que foram os dois mandatos Lula para o meio ambiente; os efeitos da COP 26 para população negra do Brasil; e o que esperar para o próximo mandato?

Os primeiros governos Lula foram marcados pelo desenvolvimento social no Brasil, com a ascensão social das populações mais pobres principalmente pelo consumo, o que não necessariamente foi pensado de forma sustentável. Importante ressaltar que a principal commodity nos dois governos foi o petróleo por meio do pré-sal. Ocorreram avanços para os povos indígenas e comunidades tradicionais sobre demarcações de terra, contudo era necessário maior controle sobre o avanço do agronegócio e mineração.

Os efeitos da COP 26 para a população negra foram pouco sentidos uma vez que há mínima representação negra na tomada de decisão política. Isso gera uma falta de endereçamento específico de ações afirmativas para a população negra.

Esperamos que os retrocessos e mazelas criadas pelo governo Bolsonaro sejam desfeitos ou minimizados, pois o Brasil, o mundo e principalmente aqueles em vulnerabilidade social precisam de um processo de desenvolvimento realmente inclusivo, diversos e sustentável.

Para entrar quem quiser conhecer mais sobre Ambiafro, procurar pelos seus serviços, realizar parceiras etc., quais são os canais?

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Para solicitação de parcerias, nos procurem no e-mail comercial:

comercial.ambiafro@gmail.com


Agradecemos à Paula e toda equipe da Ambiafro pela entrevista.

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